22 de out. de 2010

ESGOTADOS



bebem sempre da última gota
vão ao fundo do copo
ao fundo do que poderia vir
até acabar do que restou.
bebem do que virá
de todo porvir
de todas as hipóteses

secam o chão
a rua, o mar
e tudo paira plano.
depois de desertar
enchem de vazio
como faz um trator,
como as máquinas voadoras
vigiam sufocadas
as alturas de dominar

pensam sempre antes
mas sempre no antes do antes
esgotam um pensamento
até o pensamento os esgotar.
tiram tudo de todas as coisas
depois, deitados, ainda esperam
a drenagem do esgotamento.
chegam a muitos caminhos
e caminham até o fim
até onde o fim se faz parede
foto sem crédito encontrada na rede

10 de out. de 2010

onde está o silêncio das coisas?





onde está o silêncio das coisas?
me disseram que se pode ouvi-lo
mas se ouço o silêncio da flor,
já não faço falar o silêncio dela?
afirmam que há o silêncio dos pássaros
mas ninguém atenta ao canto,
ao ruído de suas asas?
nem as cachoeiras são silenciosas
dizem que seu som são lágrimas que escorrem.



e o mar? as ondas calmas
ou agitadas
sempre marulham.
por que querer ausentar-se do ruído do mar?
mar, mar, mar, mar, mar
palavra quando falada lentamente
vira o mar guardado em audição.
se não ouvíssemos o ruído do mar
não teria surgido a palavra mar
que salga a voz e molha a língua



*foto encontrada na rede