10 de fev. de 2020

Alcântara (Maranhão): poema



Foto de Jefferson Bessa

A vida cresce e definha em Alcântara
Ao passar plantas parecem esconder
Pedras parecem brotar nos cantos.
Os vazados das portas se enchem
De fora e de dentro, todos se abrem

A vida sustenta a corrosão e atravessa
Casas sem tetos, escadas não concluem.
Pelas ruas velhos alicerces surgem
Ao lado de flores brancas e murchas:
O sol e o tempo esmaecem Alcântara
E fazem erguer do chão tempos ao céu

Ela vaza expectativas e decadências:
Decai à espera pelas riquezas
Se levanta no concreto de ruínas
Decai à espera pela realeza
Se levanta no presente do passado
Decai à espera pelo convento
Se levanta no abandono das ambições
Decai à espera pelos que desistiram
Se levanta no pelourinho que ainda castiga
Decai à espera pelos escravos na Amargura
Se levanta na resistência de quilombos
Decai à espera pelos que lá deixaram 
Na portada seu símbolo
Se levanta à espera pela festa do Divino
E decai na dureza das casas coloniais

A noite de Alcântara emite ruínas
Nas luzes baixas de seus lampiões:
Vozes, ecos, desmontes, quietudes.
Ao amanhecer, ela se ergue e decai
Voltada para a Ilha do Livramento

2020