28 de mar. de 2012

PELE PALAVRA

Pele palavra
temperada
quente de lava
salobra
fria de água

Antes de sagrada
a palavra
amarga
ou amada
arrasta ou lisa

Grava olhos
lavra pele
lava mãos
leve ou pesa
da mente
passa

A silêncio
quando dita é
contradita
no extremo
da língua,
vira cravo
nos dentes
como fruto
na boca

A razão salga
açúcar
desterrada no céu
da boca.
revirada
jorra
fricativa e arranha
o risco dos píncaros
de pensar

No tato a palavra
sabe pó
e minério
revira esférica
revoa branda
sabe tudo
e nada


Nos pés
estala pedra
e erva
bate grave
recaída
na terra

Não diz nunca
não

22 de mar. de 2012

As regras para arte resultam em tédio



As regras para arte resultam em tédio. Por isso, a forma em arte corre o risco de ser um fastio se for transposta a regras. No entanto, pela forma mais antiga de fazer versos se pode fazer uma belo poema, desde que nele tenha alguma coisa de vivo ao se ler. O vivo a que se refere seria ler o poema como pela primeira vez, ler o poema como se fosse novo.



16 de mar. de 2012

AS CIDADES E OS RIOS

existem rios nas cidades
mas não são rios
não passam
não seguem
estagnados


por isso, a cidade não passa
vive extensa
num estacionamento
do tamanho dela mesma


sem o tempo dos rios
nada escoa
a cidade não passa
as pessoas param


(estranhas de nome,
as cidades não fluem
essas fluminenses e outras
não fluem


de que nos vale
um Rio em nome escrito
se travada em letra
sua palavra não escoa
pois feito poça
parou sem sua água?)


passamos sobre rios e pontes 
mas sob os olhos
nenhum rio nos passa.
ninguém passa por uma cidade
se antes um rio
por ela não passar