31 de jan. de 2011

até uma palavra se escrever


até uma palavra se escrever
inúmeras se movem em sentidos
se espalham em críveis significados
balançam falantes, falantes
sobre a balança do poema

mas inevitável no instante
que sacode e oscila
cai a palavra que não poderia ser outra
mas aquela única
que canta e dança feito pluma

A amiga Amélia Pais - do blog Ao longe os barcos de flores - divulgou um poema de minha autoria no blog. Para quem quiser visitar clique aqui.

17 de jan. de 2011

O HOMEM E A PASTA PRETA

I
um homem se sentou à mesa da frente
mais um dentre tantos outros:
com a pasta preta e sentado
não dá conta de que o olho
talvez tenha me olhado para se certificar
como de praxe faz em meio à sua função
de examinar documentos que redige

não seria exagerado, mas de relance pude ver
o modo como olha é o mesmo de quem olha
um certificado, dá por certo e carimba.
existe, sim, um carimbo nos olhos dele
segura o copo com quem agarra uma caneta
o leva à boca no jeito de passar e repassar papéis
e bebe tão forte como se na língua tivesse uma norma

II
a pasta preta o acompanha intimamente
com ela sobre as pernas e por entre os braços
a coloca tão fixa, numa posição tão certa
como uma filha carece de mãos paternas
para se erguer e, suspensa, ficar segura.
me observou por um instante - talvez desconfiado
de que meu rosto fosse um falso documento.
no entanto, eu não o olhava mais.

me restaram ali o chão e um pensamento.
quando me dei p’ra fora os vi seguindo:
o homem e a pasta preta.
andava carregando a alça num balanço de executar.
segurava como se estivesse voltando de um parque
voltando de mãos dadas à sua filha.
lá vão eles - tão dependentes – um dentro do outro
lacrados e perdidos num mesmo passo


O poema "O homem e a pasta preta" foi divulgado no blog "A vida é uma magnólia". Desde já agradeço pela presença no blog. Para quem quiser visitar, clique aqui.

6 de jan. de 2011

UM CORPO VIVO


as cores se abrem do corpo
aberto para mim, para quem o vê.
de súbito, eternamente acordo

à verdade de quem deve abrir-se
não sou eu, nem nós, nem ninguém
porque se quero desfolhar alguém
vejo qualquer coisa inexistente

nem como rosa, nem como cravo
hoje nada arrancarei de sua pele
não perderei, nem perderá um pelo.
sentará frente a mim de corpo nu
e aos meus olhos, sim, libertará
a minha visão já esquecida de mim
para só ver e ver um corpo vivo



Poema escrito após a leitura de um poema de Juan Ramón Jiménez lido no blog Viva a Poesia de Silvio Persivo, que também publicou no mesmo blog este poema que escrevi. Para ler clique aqui.