16 de abr. de 2012

LIQUIDAR


me tenho como comprado
numa loja

me tenho como vendido
em liquidação

serei lucro ou prejuízo
nesta cidade estocado
nesta caixa abafado?

nessas horas me aniquilo
feito líquido, desfeito
em queima de estoque

me compro por tão barato
me dou por tão vendido
me dou por visível em vitrine
me vendo praticamente de graça
a quem quiser

digo olá
a quem me segurar 
como as alças de uma sacola

a verdade é que não sou 
lucro ou prejuízo,
no ajuste de contas
sou mero saldo
do que fazem de mim


6 de abr. de 2012

POEMAS



I

que nau ainda segue?
mas nado feito peixe

que nau ainda comanda?
mas nado e salto à contraonda
sem a ordem de almirantes

para isso, sejamos peixes
ágeis, saltemos rápidos
ilesos ao chicote dos cabos

sejamos de altos pulos
peixes velozes
para quando do pulo
deixarmos ver ao céu
as embarcações aéreas

sejamos peixes
interligados
peixes navegantes
sem naves, navios
mas peixes de ver
de pular mais alto
que qualquer mastro


II

como à beira mar
à beira tela nós sentamos

depois de mais tantos navios
chegou mais uma tripulação
mas no ar esvaneceu-se

ninguém quis ver as micro-ondas
e o ninguém ficou a ver navios


Os dois poemas fazem parte de A minha letra é outra