31 de mai. de 2010

CORPO LIDO




no meio da página
respira úmido
o poema é corpo

o céu reflete a folha
nua a mostrar os braços
na dança escrita

pelo paladar escorrem
diversos sabores
de versos ingeridos

no leito da audição
da boca sai o som
a dizer claro sussurro

na ponta dos olhos
se vê a pele tesa
a letra tateando

sobraram palavras
a noite farta vai arrastá-las
às entradas do corpo lido

24 de mai. de 2010

PISCAR

vejo nos dias a luz se apagando
no piscar incessante dos olhos
que descansam assim sozinhos

a ardência servil de observar,
o trabalho de acender a alma
descansam na presença de esquecer

clarão visto em lentas vezes
por entre os cílios se ofusca
se acende feito constelação na noite:

feito quando os raios escalam
o horizonte pelo céu na manhã
no aceno de alongar as sombras

enquanto tudo se abre e se fecha
sei do piscar de olhos na rasura
a esboçar o que por mim passa
foto encontrada na net sem créditos

22 de mai. de 2010

O poema Pernas cruzadas foi publicado no blog Poesia Diversa de Hilton Valeriano. É uma satisfação por ser um blog de poesia que acompanho sempre.
Para quem quiser visitar: clique aqui

15 de mai. de 2010

QUEDAS

as quedas que se abrem
têm no som os ruídos
menos estrondosos que
as ruínas dos poderes,
não têm ouro a se perder,
nem o que pecar,
não têm desventuras
nem mesmo um fim

me ponha nos olhos, queda,
a atenção para crateras
que meus pés calçam,
cair com os buracos
e desabar como queda d’água.
me traga o pulo dos tombos
para andar pelo desenho
mal feito das ruas

a outras quedas me largarei -
tenho uma queda pelos beijos.
vou perder a força no declinar
e me derrubar a todos os lábios
e me deitar em todos os braços.
seja hábil, queda, às minhas pernas
para faíscas brilharem
quando ao chão derrapar

*alguns créditos das imagens inseridas na montagem: no fundo, O beijo de Pablo Picasso - que também aparece no canto superior direito. No canto superior esquerdo, O beijo de Munch. As outras foram encontradas na net sem créditos.

6 de mai. de 2010

pernas cruzadas


logo que chegou ao bar
seu corpo pediu todos os olhares
mas num instante o vi falecer
embaçar.
o corpo que não transpira
derrete
para se fixar em poses.
e assim foi.

sentou-se à cadeira
de pernas cruzadas
e de tão embaraçadas
as pernas se fizeram
grandes bengalas
que assim carregam
a beleza que pesa
e que arrasta no rosto.

ah... mas se este corpo
chegasse
sem dar ares ao cheiro...
se este corpo
escorresse
a água da pele
pelo salão
e borrifasse às minhas narinas...