25 de dez. de 2011

VERSO-OLHO RELUZENTE

eu
mal vejo
a cidade.
juntos mal andamos.
o astro de seus postes
não ilumina o noturno:
fraco é o olho da cidade.
e ainda que ela me desencontre
surgirá um olho em alguma esquina
(não o das portas do comércio que se abrem
não o olho da manhã serviçal dos ônibus
nem mesmo espere que este olho seja o meu)
espere que de uma esquina um dia se possa ver
um verso-olho reluzente pelo espaço vasto
pelas ruas se estenderá assim maior que um alexandrino

13 de dez. de 2011

ELEGIA

já havia morrido quando nasci
o rio que atravessou a infância

mas ainda assim ficava a olhar
a língua escura que ali corria

restaram os contos de um dia
que nos escorriam em banho



as crianças ao pé do rio morto
miravam o céu à espera da chuva:

seria o encontro das fortes águas
arrastaria as mortes flutuantes

mas a chuva veio e miramos o rio
e ficamos na água azul das alturas



movimentamos o céu por vezes
na enchente das sílabas de águas

as crianças entre o céu e o rio
nunca se banharam rio a dentro

já havia morrido quando nasci
o rio que atravessou a infância