30 de abr. de 2010

Duas versões para Alguidar


Escrevi duas versões para o poema Alguidar. Depois de escrever uma versão (a primeira na sequência da postagem), parti para a outra sem "desfazer" a anterior. Por fim, reli as duas
e pensei em postá-las no blog.
Abraços!


hoje preparei um alguidar
não sei o que traz dentro
julgam erro na medida dada
erro na espessura e na cor

mas se agora de uma só vez
depois da hora mais fácil
dissesse aos olhos planos
que a simetria, se houver,

remexe ainda e muito mais
no barro a que pus os dedos
nas mãos que hoje se erguem
frescas no lugar com a terra úmida

****

fiz um alguidar – não lembro quando
numa hora dessa qualquer
nem lembro se havia qualquer coisa dentro
mas sei que o julgaram errado na medida
desproporção na largura, no comprimento
as laterais não tinham a mesma altura
um lado era pouco mais elevado que o outro
a espessura e a cor variavam no todo.
mas se na vez de agora dissesse que a simetria
está no lugar das minhas mãos remexidas
da argila viva nos dedos que ainda úmidos
frescos o entregam assim molhados de terra
*foto retirada da net

23 de abr. de 2010

Caixa

ganhei uma caixa do presente
......E de pressentimento me cobriu

porque abri antes de mim

abri o que esperei de antemão
......Tudo o que soube é o que poderia ser

desperto em infinitos raios

dentro da caixa me embrulhei
......Esperei na antessala

nem mesmo soube caminhar

antes de mim desembrulhei
......Rasgando a sua matéria

mas estava sim me fechando nela

antes de mim abri a caixa

...... Me fechei de olhos

e espero de mãos vazias

14 de abr. de 2010

chão da pele

desço
ao plano das águas salgadas
mas não as dos mares

levanto o copo da boca
ao brilho
do suor do corpo

erguem-se os braços
desnudos
me lavo em branca espuma

no alto
firma minha mão
num músculo alheio

a hora encharca,
o que tange se agita

vou cavando os dedos
pelo chão da pele

revolvo essas terras
suadas em que chego

7 de abr. de 2010

PAREDE DESCASCADA

Minor White - Peeled Paint

Rochester, New York (1959)



move-se o estalido que abre a casca
voz no canto inferior da parede
onde o horizonte do quarto se levanta

sem pressa o som se ergue
na parede a camada de vida vibra
a tinta se abre, desprende-se do concreto

o ruído crescente de galhos
a pequena árvore que irrompe
tronco espesso rente à parede
- madeira de casco denso – tremor de fissuras

rebenta a cor, sobre o concreto se movem as linhas
no quarto brotam as rachaduras
fraturas
cicatrizes

sobem linhas a caminho – rios se desenham
balançam como o vento de fora.
não há que ver por dentro
nada há dentro da tinta
não há nada atrás da parede
a descasca brilha na quina do quarto
logo ali onde se pode ver como fruto
como se abrisse pela primeira vez
sem saber ainda o sabor