27 de jan. de 2009

Um poema de Walt Whitman

Quando ouvi o astrônomo erudito,
Quando as provas, os números foram listados em colunas diante de mim,
Quando me foram apresentados os mapas e os diagramas, para somar, dividir e medi-los,
Quando eu, sentado, ouvi o astrônomo no auditório em que apresentava sua palestra com grande aplauso,
Bem cedo e sem conta me senti cansado e enojado,
Até que, levantando-me e saindo silenciosamente, fui perambular pela solidão,
No místico ar úmido da noite e, de tempo em tempo,
Mirava no céu a perfeição silenciosa das estrelas.



O silêncio dos astros - Jefferson Bessa

Entre o silêncio dos astros (e do mundo), existe na fala do cientista um conhecimento muito distante do que a poesia conhece. A erudição científica quando assim “fala”, conseqüentemente, suprime o silêncio dos astros. E substitui o silêncio por esta “fala” que pretende elucidar e colocar uma estrela em um papel com leis e verdades que divergem muito dos astros. Apesar da luneta e do telescópio, essa proximidade de um astrônomo aos astros é uma verdadeira distância. A luneta serve às idéias científicas como um instrumento de intermédio para provas e experimentos para apenas certificar as suas suposições. Essa luneta não vê o silêncio das estrelas. Ela “fala” o que imagina um cientista.
E os aplausos e o espaço fechado onde as pessoas se deslumbram aos pés dos feitos do erudito astrônomo enoja e cansa a poesia; como se o público, sendo uma extensão do astrônomo, se fechasse ao exterior para mirar não as estrelas, mas o que faz delas a ciência. O papel em que o cientista escreve difere do papel em que o poeta escreve. O que sabe a poesia é que, ao perambular atentando às estrelas, terá a certeza somente do silêncio delas, por isso a poesia silencia aos pés das estrelas. Por isso, a poesia se retira da sala e caminha pela umidade noturna, pois sabe que a perfeição dos astros está no silêncio – “na perfeição silenciosa das estrelas”. A solidão poética, voltada para as estrelas, traz à sua sabedoria a única verdade: que as estrelas para Whitman são silenciosas assim como é silenciosa a solidão.

21 de jan. de 2009

Enquanto andava na rua

hoje tropecei 
enquanto andava na rua 
tombei, quebrei o joelho. 
mas de que matéria é essa pedra? 
não é mineral, certo! 
sobre este chão, caído 
ainda resisto virado, me viro a olhá-la 
e é de um azul-flutuante 
semitransparente 
e fico com esses olhos que veem 
com as gotas de sangue jorradas no chão. 
se a matéria da pedra for eu mesmo? 
se for do efeito da dor 
ou de uma coloração alquímica? 
de sensações bombardeadas 
ou de manifestação divina? 
ou pedra somente vista? 
desejada? 
ou pensada? 
De quantas matérias se compõe uma pedra? 
Para tanto basta ser uma pedra interrogada! 
(Jefferson Bessa)