Quando ouvi o astrônomo erudito,
Quando as provas, os números foram listados em colunas diante de mim,
Quando me foram apresentados os mapas e os diagramas, para somar, dividir e medi-los,
Quando eu, sentado, ouvi o astrônomo no auditório em que apresentava sua palestra com grande aplauso,
Bem cedo e sem conta me senti cansado e enojado,
Até que, levantando-me e saindo silenciosamente, fui perambular pela solidão,
No místico ar úmido da noite e, de tempo em tempo,
Mirava no céu a perfeição silenciosa das estrelas.
Quando as provas, os números foram listados em colunas diante de mim,
Quando me foram apresentados os mapas e os diagramas, para somar, dividir e medi-los,
Quando eu, sentado, ouvi o astrônomo no auditório em que apresentava sua palestra com grande aplauso,
Bem cedo e sem conta me senti cansado e enojado,
Até que, levantando-me e saindo silenciosamente, fui perambular pela solidão,
No místico ar úmido da noite e, de tempo em tempo,
Mirava no céu a perfeição silenciosa das estrelas.
O silêncio dos astros - Jefferson Bessa
Entre o silêncio dos astros (e do mundo), existe na fala do cientista um conhecimento muito distante do que a poesia conhece. A erudição científica quando assim “fala”, conseqüentemente, suprime o silêncio dos astros. E substitui o silêncio por esta “fala” que pretende elucidar e colocar uma estrela em um papel com leis e verdades que divergem muito dos astros. Apesar da luneta e do telescópio, essa proximidade de um astrônomo aos astros é uma verdadeira distância. A luneta serve às idéias científicas como um instrumento de intermédio para provas e experimentos para apenas certificar as suas suposições. Essa luneta não vê o silêncio das estrelas. Ela “fala” o que imagina um cientista.
E os aplausos e o espaço fechado onde as pessoas se deslumbram aos pés dos feitos do erudito astrônomo enoja e cansa a poesia; como se o público, sendo uma extensão do astrônomo, se fechasse ao exterior para mirar não as estrelas, mas o que faz delas a ciência. O papel em que o cientista escreve difere do papel em que o poeta escreve. O que sabe a poesia é que, ao perambular atentando às estrelas, terá a certeza somente do silêncio delas, por isso a poesia silencia aos pés das estrelas. Por isso, a poesia se retira da sala e caminha pela umidade noturna, pois sabe que a perfeição dos astros está no silêncio – “na perfeição silenciosa das estrelas”. A solidão poética, voltada para as estrelas, traz à sua sabedoria a única verdade: que as estrelas para Whitman são silenciosas assim como é silenciosa a solidão.