9 de jul. de 2020

Serro (Minas Gerais): poema


Foto de Jefferson Bessa

A entrada de Serro parece embarreirar
afastar da incrustação de seus diamantes.
Rastreia a ambição das caminhadas
os passos seguem e retrocedem pesados.
Cercada de pontas de pedras preciosas,
as agudas pedras na Serra do Espinhaço
espetam a entrada. Interferem a passagem.

Ao largo aponta para todos os ângulos
e crava aos olhos o pico do Itambé.
Posto bem ao alto parece fiscalizar:
ninguém extrai, ninguém se perde.

(A entrada parece ser controlada:
talvez pelos espectros dos dragões
prontos a atualizar as interdições.
Os espectros vivem mortos,
Exigem o contrato de extração.
Não tenho como pagar os direitos régios!
(Não disse tributos, talvez fosse preso.
O governo desterrou um frade
ensinava aos leigos a diferença)
Disseram que os córregos eram do rei
já foram nomeados "Quatro Vinténs e Lucas"
e que eu poderia sofrer o castigo do desterro 
para Angola, Índia ou Nova Colônia
e disseram ainda que os diamantes...
Enquanto falavam, se desfaziam aos ventos
e os dragões passaram para o fundo da cena)

Ao entrar, a cidade parece querer expelir.
O vermelho barro se espalha pelo chão
saindo das brechas das pedras do pavimento.
A cor resseca os olhos e a respiração
o peso das ladeiras desce pelos cantos.
Lá no fundo, Serro parece se esconder 
cercada de morros, montanhas, vales.

No topo da funda cidade sobressai a igreja
a pequena Igreja de Santa Rita parece vigiar.
Contudo não existem mais aquelas sentinelas
agora em seus degraus se pode sentar
e o silêncio da cidade vigia nosso olhar.

Mergulhada ainda nas suas riquezas,
sua superfície cintila camadas espessas:
depósitos invisíveis de minérios 
reluzentes pelos banhos do tempo
cravados em preto e branco de pedra.
Brilho sem corrida, de calma rigidez.

Cintila não da luz de ouro e diamante
mas da onda e da irregularidade do branco
cristalino no espectro de ladeiras e casas 
incrustadas de pedras não extraídas.

2 comentários:

lupuscanissignatus disse...

extrair o mineral dos olhos

Jefferson Bessa disse...

Vítor Solteiro, meu caro!
Saudoso da amplitude no conciso de seu olhar, de sua leitura.
Abraço!