29 de mai. de 2019

GOLPE




bem naquela manhã no rosto desprotegido 
veio um golpe de ar e acertou em cheio
o corpo se virou tão rápido, estremeceu
a cabeça e os passos se soltaram sem direção.
o golpe me empurrou para uma estátua
o vento cessou, no alto vi patas de cavalo,
saltavam ao vento com força e precisão.


o golpe de ar rasante aproximou o olhar
àquele galope elevado de bronze e granito
e mais acima galgava entre dedos um chapéu.
não, era um quepe se erguendo ao céu.
golpeado de arranhões nas pernas e braços
já sabia que ali se via um monumento,
era Deodoro sobre seu cavalo galopeado.


um homem se aproximou para saber do ocorrido,
quando me levantei sentia ardência nos joelhos
e astúcia no olhar de ajuda que visa aos bolsos.
não o deixei dar mais um golpe, depois de tantos.


anteontem não dormi bem em Noite de Agonia.
hoje talvez fique resfriado pelo golpe de ar.
amanhã ainda estarei com sangue no corpo
como se um cavalo tivesse passado por mim.
depois de amanhã poderei estar chumbado
por um golpe qualquer que se diz heroico.

26 de mar. de 2019

LÚCIDO



aqui luzia luz de fogueira
lá fora tem festa e fogo
aqui brotam cores e bandeiras
lá fora estalavam serpentinas

hoje perguntei para Luíza
que festa luz lá fora?
mas ela disse que Luzia

mas que festa luz lá fora?
agora seu nome é Lucílio

que música se faz lá fora?
eram vozes de Lúcia e Lúcio
dizem de fogueira e outros

era, então, festa de São João
ou fevereiro de Carnaval?

aqui luzia luz de fogueira
lá fora tem festa e fogo
aqui brotam cores e bandeiras
lá fora estalavam serpentinas

perguntei para o Luciano
agora me chamo Luciana
que festa luz lá fora?
e os nomes começavam
e cresciam como festa

a festa entrada fora crescia
aqui vozes diziam ele luz 
mas agora diziam ela luz
indo e vindo, festa e fogo

era, então, festa de São João
ou fevereiro de Carnaval?

27 de jan. de 2019

ENQUANTO ANDAVA NA RUA

Neste mês de janeiro de 2019, esta página completa 10 anos. Para relembrar, postarei o primeiro poema divulgado aqui.

hoje tropecei
enquanto andava na rua
tombei, quebrei o joelho.
mas de que matéria é essa pedra?
não é mineral, certo!
sobre este chão, caído
ainda resisto
virado, me viro a olhá-la
e é de um azul-flutuante
semitransparente
e fico com esses olhos que vêem
com as gotas de sangue jorradas no chão.
se a matéria da pedra for eu mesmo?
se for do efeito da dor
ou de uma coloração alquímica?
de sensações bombardeadas
ou de manifestação divina?
ou pedra somente vista?
desejada?
ou pensada?
De quantas matérias se compõe uma pedra?

Para tanto basta ser uma pedra interrogada!