6 de jan. de 2020

Francisco Brennand, ceramista e artista plástico, morre aos 92 anos no Recife


O artista plástico e ceramista Francisco Brennand morreu em dezembro de 2019. Postarei um poema escrito em 2015, logo depois da visita ao museu-cidade na Várzea, bairro de Recife. Não o conheci pessoalmente na ocasião. Porém, assim que escrevi o poema, resolvi enviar-lhe por e-mail. Muito atencioso, respondeu alguns dias depois. A cidade-mundo de Brennand, certamente, desperta, acorda, enfim ERGUE quem a ela chega. Obras de coragem, obras de mão e fogo, obras que se levantam entre terra e fagulha ao mais elevado. 

A Francisco Brennand *


o fogo se sente ao chegar
pois à vista tudo cresce
mas a plenitude de arder
como sempre está por vir
no forno queima ao entrar.

forno de fogo invisível
escuro claramente feito
por isso também visível:
faíscas de ruínas refeitas.

pela escuridão das paredes
se entra em uma caverna
- fornada - e nela se queima
pois tem paredes de carne
negra vermelha cerâmica.

quem não entra em vapor
na noite desta iluminação
mais luz não poderá ver.
quem sente o intenso calor
esquece a luz do visto antes
para acender o ver depois:
seu escuro o corpo clareia
sente-se oleiro: se faz no feito
pois refeito - feitiço do fogo.

na epiderme fagulham argilas
em água, em ar de conversão.
brasando entre pele e visão
quem entra se desfaz refaz
feito jarro de santuário viver
pois se obra do direto fogo.

no hálito de magia fagulha
acende-se num fio de fogo:
do escuro ruínas se erguem
das cinzas o barro se refaz
e sair se refaz feito entrar:
o que se abre na escuridão
refaz na alma o vir à luz
no oval dos arcos do céu.

mas a plenitude de arder
já que sempre está por vir
queimará ao sair do forno:
o que obra nos faz ovular
pois transfunde todo o ser.


* Na cidadela de barro do artista, existe um forno que foi mantido como parte do museu.