21 de jul. de 2010

Lâmpada

a lâmpada trocada
agora já pisca
aos poucos
ligando.
pode ver?

há dias se pendurava
queimada, quebrada
neste quarto.
já nem queria mais
trocá-la, lembro

escondeu-se no fumê
da camiseta.
dentro da cama ficou
acariciava lençóis
imaginava-os limpos
encardidos

os pés no escuro
de seu escuro escondiam
o tecido de seu tecido.
imaginavam luzes
vibrantes de receio.

mas se agora no instante
em que mais sente
este manto descobrisse
a bermuda se abrisse
o lençol fosse um lençol

e da falta de luz abrisse
o escuro de tocar sem saber
abrisse todo o gosto
de um calor noturno
para além do limpo e do sujo

a lâmpada trocada
agora já pisca
aos poucos
desligando.
pode ver?

12 de jul. de 2010

COLHEITA


I

muitos mortos de repente falam
as vozes ecoam nas lápides
nos túmulos, nos nomes, nas caixas
na data de nascimento e morte

quando eu morrer me ponham
sob a terra como os outros
mas acima não ponham nada além
só o verde das gramas que crescem

II

Que a terra me absorva como adubo
Que me transforme, extraia de mim
o que me dissolve para fertilizar
bem longe das terras sepultadas

e quando assim lá eu estiver
de mim ninguém mais se lembrará
contudo as pessoas sem saber
vão me ver vibrar, ao vento, todo verde

1 de jul. de 2010

como quem olha da varanda


não fico como quem olha da varanda
como quem fica somente com o meio
com a linha da sombra na parede
que me divide o sol matinal
me repartindo a manhã
metade dentro, outra fora

desço as escadas, abro a porta
fico com o corpo todo descido
do lado de fora assim deitado
sob a luz que escorre e afaga
me tira a roupa e comigo sorri
e correndo vem a hora nos encontrar

*foto sem crédito encontrada na net