26 de jul. de 2009

Ver Palavras

ver palavras flutuando
       nada tem de luta vã
               nem mesmo qualquer luta há

fluem num movente
      repouso como átomo:
               dispersas - unidas

sem forças.

não ficam, não fogem
        e ao redor só a paz
                na calma de ouvi-las

sem fim.

chegam sem bater
         espalham-se, deitam
                 e embora se vão

vivem sempre assim:
          movimentos plenos
                 apesar de mim

quando me falam ou não,
          aqui vêm - pousar, voar
                   -vou largar a porta aberta.



17 de jul. de 2009

verso-serpentina

Pierrot - Pablo Picasso


(enquanto festejam lá fora
eu aqui sentado escrevo
e sinto sentado.
quatro da manhã
depois de já dormir
penso na vaidade de um verso
que se quer registrar,
que se quer lido)

então um verso-serpentina
enrolado ao tempo breve
feito para jogar ao chão
em ondulação aérea

ouvindo
um verso claro
- que em seu curso

se evapora na dança de fazê-lo
como quem brinca
- sem fantasia,
sem co
(memoração)


Jefferson Bessa

7 de jul. de 2009

A NOITE DA RUA


A noite da rua sinaliza ao meu passo
A clara ausência do que a faz rua

Com semáforo ligado para ninguém
A rua sinaliza para mim sua face

Por ela só o vento faz os cruzamentos
Com um som passante dentre as árvores

A rua da noite assim segue a ela mesma
Como trilha que não é de nenhum carro

Sob seus olhos sou o que passa
Simples no andar vagaroso das pernas

E sua única seta indica paredes calmas
Como os muros do meu corpo

Entre nós nada além do que se mostra:
Atravessamos um ao outro

Agora temos entradas e saídas -

Por entre portas nos passamos

Jefferson Bessa