23 de jan. de 2012

PARTÍCULAS DE SONHO


tem dias que se sonha menos
que um sonho qualquer

tem dias que se sonha mais
que o sonho dos sonhos
mais elevados

tem dias que se sonha menos
do que sonham
aqueles que pensam
que nada sonham

mas tem dias que os mesmos
sonhos são sonhados
por todos em um sonho

os sonhos sabem sonhar o nada
o tudo e o mesmo

sabem sonhar de mais
e de menos
sabem sonhar em massa

tem dias em que o sonho
firme nas alturas
sonha só:
independente de nós
que o sonhamos

11 de jan. de 2012

ÂNIMA


para ter o que anima
não me basta sentir que basto
não me basta saber do invisível que me move
o invisível que há em mim, sozinho, não me anima.
se assim fosse, seria eu um satélite
em posição tão longínqua
que, sozinho, ficaria vagando
num espaço sem poder receber
um simples sinal.
ficaria girando e girando
para, depois de tão tonto,
explodir sem ter tido um contato

não preciso morrer para perder
o que me anima.
para morrer me basta estar embrulhado
naquilo que pensaria ser só em mim:
receber o sinal de mim mesmo

(me colocaria em pé:
estátua esquecida
me colocaria posto:
morto encaixotado

ficaria numa respiração sufocada
dentro de um invólucro dispensável
como a alma pensa do corpo

ficaria numa embalagem de proteção
como aqueles produtos vendidos em lojas
para os quais se requer todo cuidado)

para ter o que me anima
me basta saber que o invisível está no corpo sentido
me basta saber que, sozinho, não sinto
me animo mesmo com os outros que chegam

5 de jan. de 2012

BASTA SE SENTAR À MINHA FRENTE


basta se sentar à minha frente
nem preciso chegar pela mão
porque sei tocar bem de leve,
meus olhos aprenderam a ver.
chegam muito discretamente
num gesto de pequena violação
a quem gosto e não sabe ver
na cisma de traje que o preserve

do que os olhos podem alcançar
o outro pode não ter conhecimento
mas sob a linha da visão existe
o que se pode sentir na textura:
desliza sobre a pele, sabe deitar
no macio áspero e no tocar lento
que desce num tempo que dura.
pra se ver é que um corpo existe