23 de jul. de 2011

CHEGUEI HÁ POUCO

cheguei há pouco
sentei-me sozinho
rabisquei umas letras
mas no meu corpo persiste
um odor
em mim mesmo respiro
o ar de outro corpo

a mistura desperta os corpos
sozinho se sente muito pouco
e agora com o pouco calor que faz
de mim exala o encontro
de odores

recordo-me dos outros
quantos outros odores
ao chegar neste quarto
já pude sentir em mim.
as paredes não lembram
nem mesmo agora podem respirar
o que há
de alheio em mim

nesta noite me deitarei
com as horas misturadas de hoje.
às minhas narinas está o corpo
parece ainda transpirar forte
como as coisas que não vivem sozinhas


***

De Rogel Samuel para Jefferson Bessa:

li há pouco
o seu poema corpo
o corpo do seu poema
as coisas que com o corpo
fazem
li e sonho
com o alheio quarto
do alheio gozo
do poema


De Jefferson Bessa para Rogel Samuel

poema lido, escrito:
que respira
o alheamento
dos olhos, do corpo
do poema.
poema lido, escrevo:
neste quarto
que habitamos.




O poema HINO foi publicado no blog Caminho do escritor do amigo Sady Folch. Fico muito agradecido. Para visitar, clique aqui.

10 de jul. de 2011

HINO

imagino os deuses
reunidos
na minha hora de nascer
imagino as mãos
entrecruzadas
que desejavam me acolher
imagino
como eu chorava
na mão dos que não me agradavam
como eu sentia graça
agradecido
quando a seguir me deitavam
nos braços de outro

fui tocado por tantas mãos
fui assim passando
rolando
por tantas divindades
eram tantos corpos
proviam de tantos lugares
que agora
não me lembraria de um sequer

mas um fato se fez

agora me lembro:
ao meu redor ficaram
os deuses de mãos aquecidas,
envolveram-me
os deuses em corpo bruto
eram todos de beijos
eram de abraços

em meio a tantas mãos
aprendi a ser táctil
hoje sinto
na maneira bruta
vivo num corpo
feito terra revolvida

(ah, deuses dos quais não sei o nome,
nunca me preocupo por onde andais
glorifico-vos sem glorificar
não espero me trazerdes outra coisa
imagino estardes por aí entre ruas e casas
apresentando vossas mãos a quem queira)


3 de jul. de 2011

DE UM TEMPO PARA CÁ

de um tempo para cá
anda com cerimônias
com quase nada no olhar
as mãos estreitas e vazias

não bebe mais do copo
nem dança mais na pista
traguei muito desse corpo
que hoje faz rosto de revista

onde estão seus braços?
aqueles sempre móveis
que tocavam sem esforço
agora nada mais que bíceps