26 de dez. de 2009

nudez rasa

ficar na cama com o calor
e ter o corpo sem envergadura

arrastar todo meu rosto ao suor
na nudez rasa em seu desenho

fluir sempre devagar por entre braços
venerados na linha reta das curvas

estar alinhado como verso
entrelaçado em pernas volumosas

olhar a tarde em névoa quente
deixar-me escorrer por mãos

atentar ao corpo em pouco raciocínio
como simples calor a pele sente

20 de dez. de 2009

identidade


primeiro inventaram a identidade
segundo me disseram que eu a perdi
terceiro digo a todos que nunca a tive.

perdi a identidade, mas só o papel
esta que faz de mim números apenas,
por ela se faz numerologia até.

se vê meu destino, se vê meu espelho
e se sou um todo ou diversas partes.
depois de procurar pela casa inteira

confesso que aqui perdi só a de papel
deram-me pronta como se fosse eu
essa é a que poderia perder, é a que tive

mas ela – que é a única que sempre existiu –
posso ganhar, tirar a segunda via
mas essa outra nunca senti em meu corpo




14 de dez. de 2009

Corpo que escrevo


o verso se volta para você
quando nossas mãos cruzam
a ver meu rosto desnudo nos roçar

mas não somos um único em fusão
estamos um entre o outro
como a luz perpassa o vidro

como a hora de ser o dia.
deitado na calma de transpirar
sentir-se tranquilo e ir pela saída

é quando me volto para mim
e porque saio de mim evaporando
torno úmido seu corpo que escrevo
fotografia de Jefferson Bessa

6 de dez. de 2009

SALVAR



retirar-se do perigo
dos abismos
das doenças
dos dragões
nada tem a ver com salvar

livrar-se do maldito
dos cinismos
das crenças
dos ladrões
nada tem a ver com salvar

salvar é acariciar o indesejável
brincar no meio da rua
desejar todos os sexos
ou ainda
viver o remédio como
se vive a moléstia
comer a hóstia como
se bebe vinho
ou ainda
ser preto no branco
como sal entre areia escura

salvar é deixar em ruína
tudo que é seu tempo.
é deixar em silêncio
o som nos tímpanos