22 de mai. de 2012

INSTANTE


na hora do fastio
de pouco dia
de pouco ar
de hora ou segundo
de muita ou nenhuma
poesia
de falta ou de muita
palavra

sem poema
sem pensamento
sem linguagem
um cão se deita
deixe o mundo passar

seja dia ou noite
quarto ou varanda
seja no meio do mundo
no meio da rua
sentado a uma cadeira
uma mosca passa
deixe tudo estar

no opaco, no claro
deixe o mundo passar
se deitar

5 de mai. de 2012

UM TEMPO QUE VIVE


quero um verbo
urgentemente um verbo
com um aspecto temporal
que não vive num antes
mas num depois:
um depois que vive
do anterior de um futuro

não darão origem a este verbo os gramáticos?!
não darão origem a este tempo os filósofos?!
não me venham com futuro do pretérito!
nem com experiência de tempo interior!

onde está esse verbo?
esse tempo?
estão eles aqui
os vejo à minha frente
acontecem no que aconteceu
dentro do que acontecerá

(haverá quem diga que não existe
nem existirá este verbo.
haverá quem diga que seria
um mero pretérito do futuro
(a inversão de um tempo já existente).
no entanto, senhores, quem vê pelo estranho do olhar
qualquer coisa - a coisa mais simples - se torna apenas uma inversão.
o que fazer de olhos anteriores a uma anterioridade?!
o que fazer de pés que andam nos pretéritos
mais que perfeitos pés?!

quem tem nos passos apenas o estagnado
quem praticamente já não anda mais
quem vai no atrás da passagem
poderá resmungar deste tempo
que não se pode ver
um depois que vive
do anterior de um futuro)

mas já nenhuma falta me faz 
a compreensão deste verbo

pois esse tempo vive firme
no poema que com ele se escreve