21 de dez. de 2012

BEIJO



não pense 
muito
não pense 
no antes
no depois 
do beijo.
pense 
pouco

sabemos 
de tão pouco
mas juntos 
sabemos 
por esse pouco 
que é muito

por ele 
se conhece
por ele te sei 
por isso me sabe
basta ver 
ouvir

sabemos 
um do outro
nesse tudo
que é pouco

não pense 
muito
não pense 
no antes
no depois 
do beijo.
pense 
pouco


4 de dez. de 2012

ME LEMBRO BEM CLARO



me lembro bem claro
te levo aqui perto 
agora bem nas mãos

ausente, pois te vi
ontem passou por mim
e agora ainda vejo

ter visto se espalha
e passa por entre mãos, 
olhos, boca e pescoço

me lembro bem claro
os olhos te guardam
aberto nas retinas

te levo e tua imagem
agora me vem presente
dentro da mão me deita

17 de nov. de 2012

SALDO ANUAL



sim, a economia do país cresce
mas nas contas que fizemos
grande parte vem das maravilhas,
das ilhas, das filhas, das meninas.
mas também dos meninos, dos físicos,
dos ares afrodisíacos.
sim, nas contas que fizemos
o afro que se lê em afrodisíaco
provém das rendas de Afrodite.
não, no balanço dessas contas
tivemos de fazer a retificação:
o afro somado ao tempo
nos dá o resultado de que afro
deve ser calculado com africano,
assim, o saldo se afasta dos gregos.
para chegarmos ao verdadeiro saldo:
temos que somar o gringo 
mais o povo que para ele vem rindo
mais as correntes que nos prendem.
sim, a economia do país cresce.

(2012)

30 de out. de 2012

SE BUSCASSE NOS FATOS DA MINHA VIDA



se buscasse nos fatos da minha vida,
da minha biografia
nada teria o que pôr em versos.
escreveria talvez um quarteto 
um terceto, um dístico
com os nomes da rua em que morei,
mas em mim o que são nomes de rua?
se buscasse nos dias de semana
quem sou ou fui ou faço
escreveria dois versos 
ou nem um.

12 de out. de 2012

NOS DIAS DO CANSAÇO EM OLHAR



nos dias do cansaço em olhar
as ruas, os andares, os cabelos
os jornais, as fotos, os carros
depois de tanto olhar arrastado
para te ver deixo a escuridão
bem firme como uma presença

o que não se olha não nos leva
à terra alguma longe desta,
estamos juntos, bem próximos.
pouco se imagina e se pensa,
os olhos se cansaram por hoje
e na escuridão sentimos bem

ouvimos claro o que se tem,
pois aqui a noite não é ausência
de luz de não sabermos sentir.
de olhos cerrados a luz se abre
as mãos se abrem, iluminando
o ver dos dedos no teu corpo

O poema Quem tem nas mãos um poema foi divulgado no blog Poetas de Marte. Para visitar, clique aqui.

24 de set. de 2012

LICENÇA POÉTICA




Não peço licença para escrever.
Mas me enviaram
Um documento que me autoriza a escrever
Do modo como eu quiser.
Mas quem o pediu?
Não fui eu.
O oficial à minha porta, impaciente comigo,
Me ordenou que assinasse o papel,
Para confirmar que estou ciente.
Não estou ciente, nem consciente,
Nem conheço esse tipo de ciência em mim.

(Bateram à minha porta
Mas nunca fui à porta dos gramáticos.
Seria como ir à prefeitura da cidade
Receber uma licença para escrever)

Volte com este documento!
Diga que quando escrevo
Não faço nenhum desregramento
Nenhum desvio,
Por que, então, receber essas licenças?
Para liberdades de sintaxe?
Para amplitudes semânticas?
Para possibilidades fonológicas e morfológicas?

Não assinarei o que nunca pedi,
Diga à prefeitura dos gramáticos
Que sou como se não existisse.
Melhor assim do que existir
Sob licença por ser quem sofre de desvios
Concedidos por proprietários da língua.

Quando se escreve não se recebem
Licenças de uso ou de renovação.
Apenas quero escrever poemas
Mas me perdi escrevendo
Das grandes concessões gramaticais...


5 de set. de 2012

SÓ COM O MUNDO TODO



Na curva, na calçada
no meio de todo mundo
no meio, sempre no meio
do mundo, do povo, da rua
andamos com o Só

No quarto recolhido
se escreve o Só
a sós com o mundo todo

Não se deve excluir o Só
mas sustentá-lo à mostra
como ferida aberta de pé

No estar do meio de tudo
somos pontos de muitos
só(i)s pequenos, errantes
iluminando as diferenças
sem drama ou clausura

Na rua cada um é uma ilha
onde os Sós se fazem um Só

21 de ago. de 2012

QUANDO OUVIR FALAR EM CALOR



(quando ouvir falar em calor
- bastante atenção - não separe
o ardor a que um só pertence)
sim, podemos sentir mais forte
um dia junto a outro corpo
- não deixamos de sentir -

mas não pense em simples calor
o da hora, do quarto, da roupa.
não pense em beijo de novela,
em ondas de calor de menopausa
em calor da espera em fila
em ventos de meteorologia

o que aqui se faz sentir
se deixa deitar e transpassar
o quente por entre mãos.
não veja por ver - atenção -
os olhos de quem realmente vê
vê pelo quente das retinas

6 de ago. de 2012

UM DIA ME PERGUNTOU QUE CAMINHO VAI SEGUIR


um dia me perguntou que caminho vai seguir.
estávamos juntos quando me perguntou
por que agora vai sair?
lhe disse sempre saímos, porque entramos.
no entanto, lhe pedi para lembrar
se lembra daquele instante
insistiu
me perguntou para onde vai seguir
por que agora decide sair?
lhe pedi, então, para se lembrar
nunca entrei
por isso não estou saindo
  
(Amor nos segue assim
sem o peso de entradas, saídas
sem abrir ou fechar.
Amor é ignorante
de maçanetas, ferrolhos
de trincos, segredos)

me perguntou por que não entrei.
respondi, então, quem insiste em entrar
nunca, nunca entra
porque Amor é que não entra nunca.
às vezes Ele se senta à porta
mas, errante que é, não entra

na última hora, quis saber ainda
mas Amor passou,
sem contar as luas que passaram
me levou

21 de jul. de 2012

POEMA NU nº 3


se distancia, mais longe embaça 
a distância não engana
depois da fumaça não te busco 


em ar de sombras te vejo certo
na visão que em mim te oscila
em linhas que molham ao longe


sobre a cama se deitam os olhos
por dentro d'água as mãos
por entre os vidros tua nudez


indo e vindo tão lento aos olhos
eu, deitado, não te vejo incerto
te vejo plenamente em banho



AGRADEÇO À AMIGA MIRZE PELA DIVULGAÇÃO DESTE POEMA (NU Nº 3) EM SEU BLOG. PARA VISITAR, CLIQUE AQUI.

2 de jul. de 2012

HOJE VOU ESCREVER LUA



nova que passa e vai
cheia de prata e azul
míngua de noite e de mim.
crescente sem trabalho
sem vontade de ser vista
sem força, brilho, fantasia.
sem, a lua sempre sem
que nem sabe que vem
e não sabe que é sem.
mas não sei em que vento
parei, em que curva estacionei
mas hoje vou escrever lua
será sem também,
sem querer outra coisa
a não ser isto
(palavra prata que não para)

22 de jun. de 2012

"NOS ÚMIDOS PLANOS DAS MÃOS": E-LIVRO DE JEFFERSON BESSA



Amigos, esta postagem é para divulgar o ebook com meus poemas. Só tenho a agradecer o excelente trabalho do Castanha Mecânica. É uma satisfação participar deste projeto. Para baixar o livro ou ler online, clique aqui.

19 de jun. de 2012

SEMPRE ME PEDEM, PEDEM QUALQUER COISA


sempre me pedem
pedem qualquer coisa
me pedem os conhecidos e os desconhecidos
os necessitados e os não necessitados 
os ricos e os pobres:
os ricos me pedem um serviço pronto
os pobres, um trabalho, uma moeda


sempre me pedem 
me pedem até mesmo para pedir a Deus.
mas onde estará o altar?
ah, persistem em andar 
pela cidade dos joelhos acimentados
cidade ajoelhada a um templo que mal se vê 
bem longe no alto de um morro


mas do chão grande e suja
se ergue a mão do mendigo
e saem dos guichês mãos cobradoras
os funcionários me cobram as entradas
não os conheço pelo rosto
mas os conheço precisamente pela mão
que não se diferencia da mão 
pedinte a casamentos
(são mãos exigentes de recibo!)


em meio a tantos pedidos
me torno a partir de agora
um pedinte - um desses grandes pedintes.
quando alguém vier me pedir para ouvir
para falar, 
para gargalhar,
para comer
ou comparecer
direi que, nesse mundo constituído de petições,
todos deverão esperar.
pode ser até mesmo um mandado institucional 
também deverá esperar,
pois espero aqui a resposta
de um pedido 
acabei de pedir às coisas 
uma palavra
um verso
uma rima
um poema


nesses momentos tenho uma concepção
uma grande unidade de ideia
influenciado pelas moças de escritório
quem em linguagem burocrata dizem
“qual seria a sua solicitação, senhor?”
por influência, isso caberia numa única sentença
seria a pura essência ao largo das aparências:
quando chegar a hora 
de ouvir um pedido
compreenderei
“a vida é uma solicitação”!

6 de jun. de 2012

ME DIZ QUE AMA SIM


Me diz que ama sim
Mas amar não mais o engana.
Me diz que ama certamente
Mas sem muita intensidade.
Meu caro, como assim
Me diz logo de cara com 
Meras e outras palavras que se
Mantém e ama sem nenhuma graça?

(Mal de gente que não bebe vinho, de 
Melindres suspeitos de quem vive
Mundos que na boca põe apenas
Meias palavras, meias línguas e meios beijos.
Miséria essa sem nenhuma sensação
Menta falsa de frescor fino de mausoléu.
Mestre, mestre de amor e de equívocos.
Me diz que de tudo já viu, já sonhou.
Me diz que ama sim
Mas quem acreditaria ao sentir essa
Mirra forte de igreja velha,
Mina desbotada de ouro velho,
Maneiras capengas de admiração,
Matusalém de sussurros determinados?)

Me venham amores que saibam beber
Mil luzes literais e musicais de voz
Mas sem as preocupações de ser
Meteoros ou constelações ou medos.
Minha calma e essa de um corpo
Mil carrancas afastarão sem ouvir esse
Muxoxo desdenhoso de amar.

22 de mai. de 2012

INSTANTE


na hora do fastio
de pouco dia
de pouco ar
de hora ou segundo
de muita ou nenhuma
poesia
de falta ou de muita
palavra

sem poema
sem pensamento
sem linguagem
um cão se deita
deixe o mundo passar

seja dia ou noite
quarto ou varanda
seja no meio do mundo
no meio da rua
sentado a uma cadeira
uma mosca passa
deixe tudo estar

no opaco, no claro
deixe o mundo passar
se deitar

5 de mai. de 2012

UM TEMPO QUE VIVE


quero um verbo
urgentemente um verbo
com um aspecto temporal
que não vive num antes
mas num depois:
um depois que vive
do anterior de um futuro

não darão origem a este verbo os gramáticos?!
não darão origem a este tempo os filósofos?!
não me venham com futuro do pretérito!
nem com experiência de tempo interior!

onde está esse verbo?
esse tempo?
estão eles aqui
os vejo à minha frente
acontecem no que aconteceu
dentro do que acontecerá

(haverá quem diga que não existe
nem existirá este verbo.
haverá quem diga que seria
um mero pretérito do futuro
(a inversão de um tempo já existente).
no entanto, senhores, quem vê pelo estranho do olhar
qualquer coisa - a coisa mais simples - se torna apenas uma inversão.
o que fazer de olhos anteriores a uma anterioridade?!
o que fazer de pés que andam nos pretéritos
mais que perfeitos pés?!

quem tem nos passos apenas o estagnado
quem praticamente já não anda mais
quem vai no atrás da passagem
poderá resmungar deste tempo
que não se pode ver
um depois que vive
do anterior de um futuro)

mas já nenhuma falta me faz 
a compreensão deste verbo

pois esse tempo vive firme
no poema que com ele se escreve

16 de abr. de 2012

LIQUIDAR


me tenho como comprado
numa loja

me tenho como vendido
em liquidação

serei lucro ou prejuízo
nesta cidade estocado
nesta caixa abafado?

nessas horas me aniquilo
feito líquido, desfeito
em queima de estoque

me compro por tão barato
me dou por tão vendido
me dou por visível em vitrine
me vendo praticamente de graça
a quem quiser

digo olá
a quem me segurar 
como as alças de uma sacola

a verdade é que não sou 
lucro ou prejuízo,
no ajuste de contas
sou mero saldo
do que fazem de mim


6 de abr. de 2012

POEMAS



I

que nau ainda segue?
mas nado feito peixe

que nau ainda comanda?
mas nado e salto à contraonda
sem a ordem de almirantes

para isso, sejamos peixes
ágeis, saltemos rápidos
ilesos ao chicote dos cabos

sejamos de altos pulos
peixes velozes
para quando do pulo
deixarmos ver ao céu
as embarcações aéreas

sejamos peixes
interligados
peixes navegantes
sem naves, navios
mas peixes de ver
de pular mais alto
que qualquer mastro


II

como à beira mar
à beira tela nós sentamos

depois de mais tantos navios
chegou mais uma tripulação
mas no ar esvaneceu-se

ninguém quis ver as micro-ondas
e o ninguém ficou a ver navios


Os dois poemas fazem parte de A minha letra é outra

28 de mar. de 2012

PELE PALAVRA

Pele palavra
temperada
quente de lava
salobra
fria de água

Antes de sagrada
a palavra
amarga
ou amada
arrasta ou lisa

Grava olhos
lavra pele
lava mãos
leve ou pesa
da mente
passa

A silêncio
quando dita é
contradita
no extremo
da língua,
vira cravo
nos dentes
como fruto
na boca

A razão salga
açúcar
desterrada no céu
da boca.
revirada
jorra
fricativa e arranha
o risco dos píncaros
de pensar

No tato a palavra
sabe pó
e minério
revira esférica
revoa branda
sabe tudo
e nada


Nos pés
estala pedra
e erva
bate grave
recaída
na terra

Não diz nunca
não

22 de mar. de 2012

As regras para arte resultam em tédio



As regras para arte resultam em tédio. Por isso, a forma em arte corre o risco de ser um fastio se for transposta a regras. No entanto, pela forma mais antiga de fazer versos se pode fazer uma belo poema, desde que nele tenha alguma coisa de vivo ao se ler. O vivo a que se refere seria ler o poema como pela primeira vez, ler o poema como se fosse novo.



16 de mar. de 2012

AS CIDADES E OS RIOS

existem rios nas cidades
mas não são rios
não passam
não seguem
estagnados


por isso, a cidade não passa
vive extensa
num estacionamento
do tamanho dela mesma


sem o tempo dos rios
nada escoa
a cidade não passa
as pessoas param


(estranhas de nome,
as cidades não fluem
essas fluminenses e outras
não fluem


de que nos vale
um Rio em nome escrito
se travada em letra
sua palavra não escoa
pois feito poça
parou sem sua água?)


passamos sobre rios e pontes 
mas sob os olhos
nenhum rio nos passa.
ninguém passa por uma cidade
se antes um rio
por ela não passar

29 de fev. de 2012

ESQUINAS

a esquina da rua de cima
larga
e só,
esquina grande
mas só

do outro lado
a esquina da rua de baixo
curta, breve

uma era em medida
tão grande
como tão pequena
era aquela esquina
de baixo

mas há uma curva
em cada uma
uma curva sem mesura

a de cima
continua lá
estática
grande

mas a curva de baixo
a pequena
a de baixo
grande se vê:

sabemos da verdade
que deixamos na curva
da esquina
de baixo

verdade visível
grande
palpável
feita da mesma espessura
que se conhece o outro

feita do mesmo arco
que se desenha a mão
na grandeza de tocar

17 de fev. de 2012

QUEM TEM NAS MÃOS UM POEMA


quem tem nas mãos um poema
não segura um deus, é certo!
mas quem o tem aos olhos
não deve vê-lo como assistir tv

não o leia como comer biscoitos
no passatempo vazio de esquecer,
nem como quem para fingir a dor
ingere remédio de efeito efêmero

um poema faz esquecer de vez
depois de o ler é para sempre.
não se volta, não distrai a hora
do tédio de pensar no dia seguinte

a marca que se lê não se perde
mas lembra no momento de hoje.
o prazer que pode ler um verso
vem de comer na verdade da fome



3 de fev. de 2012

PASSANDO PELA RUA


passam dois, quatro, seis olhos
me olham
como se quisessem descobrir
o que no instante reluz

provável que tenham no desejo
o que dos meus olhos escapa

(poderia pensar que me vigiam
ou me convocam.
no entanto, essas oscilações
não importam

poderiam me julgar que eu nos olhos
do meu sujeito exacerbado
vejo os olhos alheios
por dentro dos meus)

alguns podem não ter consciência
e sentem no olhar,
mas outros sabem
pelo imediato do olhar
o que seu também sabe sentir

é que os corpos acordam
ao encontro dos que passam,
por isso se dá passagem
à transpiração entre olhos:

na verdade, quem vejo
quem me vê
é o Amor de minutos atrás
no corpo ainda sinto
e aos olhos se revela
translucidamente

23 de jan. de 2012

PARTÍCULAS DE SONHO


tem dias que se sonha menos
que um sonho qualquer

tem dias que se sonha mais
que o sonho dos sonhos
mais elevados

tem dias que se sonha menos
do que sonham
aqueles que pensam
que nada sonham

mas tem dias que os mesmos
sonhos são sonhados
por todos em um sonho

os sonhos sabem sonhar o nada
o tudo e o mesmo

sabem sonhar de mais
e de menos
sabem sonhar em massa

tem dias em que o sonho
firme nas alturas
sonha só:
independente de nós
que o sonhamos

11 de jan. de 2012

ÂNIMA


para ter o que anima
não me basta sentir que basto
não me basta saber do invisível que me move
o invisível que há em mim, sozinho, não me anima.
se assim fosse, seria eu um satélite
em posição tão longínqua
que, sozinho, ficaria vagando
num espaço sem poder receber
um simples sinal.
ficaria girando e girando
para, depois de tão tonto,
explodir sem ter tido um contato

não preciso morrer para perder
o que me anima.
para morrer me basta estar embrulhado
naquilo que pensaria ser só em mim:
receber o sinal de mim mesmo

(me colocaria em pé:
estátua esquecida
me colocaria posto:
morto encaixotado

ficaria numa respiração sufocada
dentro de um invólucro dispensável
como a alma pensa do corpo

ficaria numa embalagem de proteção
como aqueles produtos vendidos em lojas
para os quais se requer todo cuidado)

para ter o que me anima
me basta saber que o invisível está no corpo sentido
me basta saber que, sozinho, não sinto
me animo mesmo com os outros que chegam

5 de jan. de 2012

BASTA SE SENTAR À MINHA FRENTE


basta se sentar à minha frente
nem preciso chegar pela mão
porque sei tocar bem de leve,
meus olhos aprenderam a ver.
chegam muito discretamente
num gesto de pequena violação
a quem gosto e não sabe ver
na cisma de traje que o preserve

do que os olhos podem alcançar
o outro pode não ter conhecimento
mas sob a linha da visão existe
o que se pode sentir na textura:
desliza sobre a pele, sabe deitar
no macio áspero e no tocar lento
que desce num tempo que dura.
pra se ver é que um corpo existe