25 de dez. de 2011
VERSO-OLHO RELUZENTE
13 de dez. de 2011
ELEGIA
o rio que atravessou a infância
mas ainda assim ficava a olhar
a língua escura que ali corria
restaram os contos de um dia
que nos escorriam em banho
as crianças ao pé do rio morto
miravam o céu à espera da chuva:
seria o encontro das fortes águas
arrastaria as mortes flutuantes
mas a chuva veio e miramos o rio
e ficamos na água azul das alturas
movimentamos o céu por vezes
na enchente das sílabas de águas
as crianças entre o céu e o rio
nunca se banharam rio a dentro
já havia morrido quando nasci
o rio que atravessou a infância
30 de nov. de 2011
ANDO MUITO LENTO, MUITO LENTO
mais lento que a lentidão
talvez mais lento que o animal mais lento
por isso tenho infinitas afinidades
com uma senhora - minha vizinha.
quando saímos juntos, andamos tão lentamente,
andamos numa lentidão superior às fraquezas dos ossos.
superior até mesmo a qualquer retardamento mental.
nessa lentidão especial é que conversamos
caminhamos quase parados
sempre parado, assim fico
sempre parado
como quem não sabe se vai ou se fica
sem saber qual é a próxima parada
tão parado que não sei nem mesmo onde parar
a rua corre, a cidade cresce
a cidade julga caminhar em velocidade
as mensagens voam,
e tudo me faz querer parar
quando olho ao meu redor
e vejo passar o automóvel
ou a nave mais veloz do mundo
sinto-me plantado no chão
empacado como o automóvel mais velho do mundo
identifico-me com uma árvore na calçada
com um camelô no meio do caminho
com um poste, um assento, uma avenida congestionada
a cidade se julga muito rápida
mas subo e desço as ruas lentamente.
alguma coisa na cidade sonha a rapidez
mas nela só há arrastados passos
e caminhamos nas ruas
eu e minha vizinha
dirão que o retardo em mim
provém do excesso de cidade.
dirão que sou um vencido.
mas minha lentidão é inerente
sempre estive lento
demorei a nascer
e nesta cena me mantenho
como um drama sem ato
18 de nov. de 2011
NECESSIDADES
ontem mesmo decidiram por mim
que preciso suprir todas as minhas carências.
terei de pô-las umas sobre as outras,
numa sequência hierárquica das necessidades
amanhã receberei a tabela do que se deve fazer
minhas prioridades conhecerei amanhã
aparelharam em mim os elementos indispensáveis
aceitei sem saber. Entrei num estado de passividade
como quem se desliga e se liga frente a uma tela.
amanhã serei os corredores de uma empresa
uma mão invisível me medirá, serei os departamentos
passarei como veículo que carrega ou de pé estarei
feito uma estante firme com espaço a ser preenchido
seguirei a viver numa sequência de necessidades
como os que abastecem os sentidos como depósitos
expostos um sobre o outro numa escala eterna
de ir e vir ao mesmo ponto de querer a mesma coisa.
substituíram ordenadamente minhas necessidades
organizaram administrativamente minhas vontades
energizaram meu corpo como uma embalagem
6 de nov. de 2011
PRIMEIRA NOITE
que não conhecia
era a primeira noite
lembro que a noite era
de muita chuva
e hoje me chovem as noites e os dias
jamais saberei quem foi este
tu que vieste
na presença de um sonho
de transpirar
quando acordei
pulsando e trêmulo
encharcava todo o quarto
e já deitado sobre
o lençol branco
sobre a terra estendido
respirei o odor branco de chuva
o cheiro de corpo molhado
do rosto com quem sonhei
vislumbro poucos traços
mas tenho sob a vista
sobre a cama
o instante do sonho
derretido em branco
18 de out. de 2011
VOLTAR
às cortinas
à janela
às toalhas
à cama
voltar ao espelho
voltar como sempre
ao mesmo deste lugar
foi nesta hora
que quase me deixei
ser o mesmo
com os objetos do quarto.
por um momento
quase deixei o beijo
como um passado
e me lancei a dormir
o sono de olhares iguais.
por pouco não me estendi
sobre a cama como roupas
penduradas em cabide.
mas foram essas roupas
as últimas coisas iguais
agora volto
como se estivesse indo
porque a tua nudez,
a tua pele, os teus beijos,
os teus dedos, os teus abraços
o moreno do odor de teus braços
me fizeram voltar
como se nada fosse antes
5 de out. de 2011
SOPRO
da terra
se levanta
o corpo deitado
sonolento e errante
como na hora de dormir
já esquecido de ouvir
sente somente
o sopro
- ao pé dos rochedos
do ouvido –
e o corpo se estendendo
plenamente
ao sopro de vida
que provém
de ti
21 de set. de 2011
DESÇAM GOTAS
linhas finas
linhas grossas de chuva
desçam pra encher
a rua
encher a cidade
na dança de ir
e vir
(desça a chuva
da chuva
a chuva
de não chover
a chuva
de encharcar
a chuva
dos muitos beijos
a chuva
dos seres que são
e dos que são
uma negação)
desçam longas,
unidas
desçam todas as linhas
da chuva,
que a cidade se inunde
as roupas se molhem
os corpos se encharquem
desça, água
deste céu desça
muita chuva
pra encher
as bocas sedentas
de não mais saber
como beber chuva
desça, água
diluindo
as algazarras silenciosas
das ruas,
das lojas, das bocas.
que as linhas da chuva
desçam
cortantes
fortes
e como tesoura desfaçam
a costura das roupas
para vermos
a olho nu
12 de set. de 2011
ANTENAS
ser uma antena,
não a de casa
não a que cobre
grandes regiões
ser um satélite,
não o dos espaços
que vive o centro
como grande astro
com minhas mãos
tenho dez antenas
com minha língua
tenho apenas uma
com meus olhos
tenho duas antenas
como tenho duas
com meus mamilos
meu corpo acende
agora nesta hora:
meu dedo plugado
a um raio de sol
31 de ago. de 2011
NU (nº 2)
não era o sono de quem dorme
mas o sono de quem me olhava
de olhos cerrados acenou-me
o corpo em relevo se deitava
meus olhos de repente não viam
eram mãos como areia molhada
em umidade os olhos escorregavam
delineando um gesto feito onda
nos traços do outro que agora sou
não apenas transpiro ao teu lado:
o meu corpo em rio repousou
na nudez de teu corpo deitado
17 de ago. de 2011
NÃO SABEREI MAIS
não saberei mais de passados
que consideração o mundo tem com o que se fez do passado?
não saberei de futuros
que prenúncio conhece o mundo?
se o tivesse desenharia um futuro
que seria uma equação do presente e do passado
feito aquelas compensações que os homens acreditam
mas que o mundo desconhece
também não saberei de destinos
quem tem o destino nas mãos são os deuses
e os deuses não são o mundo.
os deuses são muito semelhantes aos homens
sonham e sonham que dominam a correnteza
de hoje em diante sou o mundo
o mundo desconhece e não tem rosto
sou, portanto, apenas um alguém
de braços cruzados
de costas viradas
sem saber
podem achar que essa é apenas a minha vontade
mas se enganam
não tenho vontades
o mundo não as tem
por que eu as teria?
se o mundo for um mar de rosas, assim o serei
se o mundo for tempestade, também assim o serei
pra quem não entendeu
de hoje em diante
sou mundo
pura e simplesmente mundo
6 de ago. de 2011
EXCESSO
por que lavou tanto suas mãos?
chegaram para mim tão lisas
quis tanto sentir o leve áspero
de tudo que em suas mãos tem
por que lavou tanto o pescoço?
chegou para mim perfumado
quis tanto respirar o odor
de tudo que em sua pele tem
não esperei de você o impuro
nem aspirar de seu ar puro
queria apenas sentir o próprio
de tudo que em seu corpo tem
23 de jul. de 2011
CHEGUEI HÁ POUCO
sentei-me sozinho
rabisquei umas letras
mas no meu corpo persiste
um odor
em mim mesmo respiro
o ar de outro corpo
a mistura desperta os corpos
sozinho se sente muito pouco
e agora com o pouco calor que faz
de mim exala o encontro
de odores
recordo-me dos outros
quantos outros odores
ao chegar neste quarto
já pude sentir em mim.
as paredes não lembram
nem mesmo agora podem respirar
o que há
de alheio em mim
nesta noite me deitarei
com as horas misturadas de hoje.
às minhas narinas está o corpo
parece ainda transpirar forte
como as coisas que não vivem sozinhas
***
De Rogel Samuel para Jefferson Bessa:
li há pouco
o seu poema corpo
o corpo do seu poema
as coisas que com o corpo
fazem
li e sonho
com o alheio quarto
do alheio gozo
do poema
De Jefferson Bessa para Rogel Samuel
poema lido, escrito:
que respira
o alheamento
dos olhos, do corpo
do poema.
poema lido, escrevo:
neste quarto
que habitamos.
10 de jul. de 2011
HINO
reunidos
na minha hora de nascer
imagino as mãos
entrecruzadas
que desejavam me acolher
imagino
como eu chorava
na mão dos que não me agradavam
como eu sentia graça
agradecido
quando a seguir me deitavam
nos braços de outro
fui tocado por tantas mãos
fui assim passando
rolando
por tantas divindades
eram tantos corpos
proviam de tantos lugares
que agora
não me lembraria de um sequer
mas um fato se fez
agora me lembro:
ao meu redor ficaram
os deuses de mãos aquecidas,
envolveram-me
os deuses em corpo bruto
eram todos de beijos
eram de abraços
em meio a tantas mãos
aprendi a ser táctil
hoje sinto
na maneira bruta
vivo num corpo
feito terra revolvida
(ah, deuses dos quais não sei o nome,
nunca me preocupo por onde andais
glorifico-vos sem glorificar
não espero me trazerdes outra coisa
imagino estardes por aí entre ruas e casas
apresentando vossas mãos a quem queira)
3 de jul. de 2011
DE UM TEMPO PARA CÁ
anda com cerimônias
com quase nada no olhar
as mãos estreitas e vazias
não bebe mais do copo
nem dança mais na pista
traguei muito desse corpo
que hoje faz rosto de revista
onde estão seus braços?
aqueles sempre móveis
que tocavam sem esforço
agora nada mais que bíceps
24 de jun. de 2011
DIZENDO COMO UMA CRIANÇA

é como experimentar a morte.
ouvi a assertiva feito uma criança.
sem qualquer dificuldade afirmei:
por isso nunca se sabe do silêncio
- a morte alguma vez foi sentida?
o que não se sente não é nada
o silêncio, nunca o sentimos
muito do que se acredita não existe:
é como pensar que se sente morto.
isso tudo ficou claro para mim
e o homem adulto, previsível, disse
você parece bastante doido.
respondi: sou doido feito criança
10 de jun. de 2011
UM DIA SE DEITARÁ AINDA
um dia se deitará ainda
manso sem querer pensar
um dia pousará no instante
como um nada que resiste
sobre o pleno de meu corpo
e sozinho chegará
assim calmo, leve e brando
assim fácil, todo e logo
vamos juntos esquecer
juntos levianamente
um dia se deitará ainda
manso sem querer pensar:
um vento qualquer no ar
e irá pousar sobre mim
sem saber como e por quê
30 de mai. de 2011
ontem a chuva veio de trás
ontem a chuva veio de trás
a frente se fez diferentemente úmida
do leste uma luz diversa descia
nada similar aos outros fins-de-tarde
na mistura de um laranja-prata
iluminou casas, ruas, antenas
não havia uma pessoa
todo o resto se deixava passar pela luz
arrastava-se ao ocre da terra
no tempo do verde-azul
visto nos montes ao longe
não era um crepúsculo
não era tarde, nem manhã.
da chuva vinda de trás
a cor desconhecida
por instantes se mostrou
outra coisa – sem nome
não era alguma coisa
era cor – era o que nunca mais se verá
só conheço pelo que já disse
a luz veio do leste
depois da chuva vinda de trás.
não havia sequer uma pessoa
sem definição acontecia
brilhava na visão
uma cor que nunca mais se verá
15 de mai. de 2011
que o sol possui tarefas diárias?
que o sol possui tarefas diárias?
não poderia acreditar nessa ideia
sei bem que eu possuo encargos
créditos e carnês e pagamentos
minhas tarefas visam a este fim
mas que fim teriam as tarefas do sol?
diriam a tarefa de semear e iluminar
mas ele mesmo não sabe o que faz
o sol não possui nenhuma tarefa.
se um dia o sol se apagar de vez
não será por falta de pagamento,
por falta de emprego ou dinheiro
se nós temos a nossa empreitada
o sol nada tem a ver com isso
se um dia o sol se apagar de vez
não será por rescisão de contrato
nem pensará no prejuízo humano.
deixe-o então ao largo deste fardo
melhor esquecermos e como está
sentirmos a luz, sermos amarelos
alaranjarmos nos fins-de-tarde
com ele nos apagarmos à noite
no verão termos a pele morena
suarmos azul, rosa e corarmos
26 de abr. de 2011
O SAL DO CORPO
vagarosamente
seguir
pelo estreito
das fendas,
dos braços,
olhos,
orelhas
banhar
o pescoço
e
descer
ao dorso
num risco leve
de só ser
úmido
esquecer-se
no gosto
de ser
aos poucos secar
e evaporar
ao dedo
de teus
pés
passar pelo teu corpo
como uma
derradeira
gota
d’
água
13 de abr. de 2011
PÔR

ver como o sol no fim da tarde
numa variação de cores tão intensa
que piscar é se deixar em últimos raios
no entre das brechas
de uma casa, de um prédio
de uma pessoa e outra
dos homens que passam andar por entre o vão das pernas
do salto alto da mulher atravessar feito um pouco de ar
(podem pensar que neste modo de olhar
neste modo de sentar existe alguma tristeza.
o que fazer se esse instante é o de se pôr
e esquecer do que em nós também faz se pôr)
do extremo duma ampla avenida
se pode ver melhor o pôr
escorrendo na língua dos raios
entre às cinco e seis da tarde
no fragmento das longas sombras
o sol, a luz, as pessoas
todos assim se esfregam ao rés do chão
*fotografia sem crédito encontrada na net
27 de mar. de 2011
SOBRE A NOSSA MESA
fitavam sentadas ao redor
juntos sobre a mesa ficávamos
mas ainda agora os pés balançam
vejo que tremem com o peso
arrastam-se com os beijos
e se lançam no curso da nossa água
nada mais reveste esta sala
a mesa se faz para deitar
de bandeja lançamos à fartura
assim se deitam corpos em prazer
15 de mar. de 2011
ESTE SERÁ MEU CUMPRIMENTO
dinheiro tenho pouco
nem uma pessoa influente de poder conheço
não levarei ninguém a qualquer promoção
portanto, não leia este verso
este poema como um meio,
por ele – que sou eu –
não chegará a nenhum futuro brilhante
nem a ocupar um cargo de bom salário
ou daqueles de excelentes aparências.
não tenho nem como trocar favores
não tenho nada que lhe possa interessar
se for por isso nem mesmo um minuto
vale perder comigo.
não precisa de discrição,
afasta-se rápido
finja em qualquer lugar que passo despercebido.
muitos conhecidos pensam em me querer
- no mínimo do que tenho.
mas não tenho nada, nem o mínimo
nem mesmo um verso rimado
não tenho o que oferecer
pode pensar que me ver
é avistar um rosto de dia de semana
um rosto de olhar cansado o trajeto de uma terça-feira
sim, sou um dia de semana arrastado
sem uma ninharia.
melhor, então, é me deixar jogado num canto
prometo que a partir de hoje
logo que alguém falar comigo
antes de todas as coisas falarei assim direto
não tenho nada – será meu cumprimento
28 de fev. de 2011
como seguir apenas em um barco?
baixos e altos passam os desejos
pelo tamanho de corpos que vejo.
por entre tantas pernas e braços
como seguir apenas em um barco?
sempre aos olhos andam os traços
em muitos sinais morenos, espessos.
dentre as várias pessoas na rua
como poder idealizar uma?
só percebo em você a roupa que entra
se a hora do dia esfria ou esquenta.
mas sempre se desnudam aos olhos
nossos corpos fáceis que descem lisos.
por que todos os dias as pessoas
não se levam a sonhar em todas?
***
O poema de Rogel Samuel para Jefferson Bessa:
porque a beleza estáno imaginar
a imaginação é minha
dentro de mim
o que está fora é uma sombra
a sombra de uma sombra
como na caverna de platão
somos sonhos
os corpos passeiam pelos sonhos
pelo que somos
a lembrar
14 de fev. de 2011
um silêncio de furto

ouvi que os gatos são encantados pelo silêncio
disso não se tem certeza
quem já os viu encantados?
pisam o chão tão indiferentes
mas um silêncio encantado há por trás
de quem anda em passos de se esconder
de quem quer descobrir
roubar a voz das coisas
são esses investigadores do mundo
chegam sorrateiramente pelas costas
desejam conhecer todos os segredos
querem encontrar os meus lados
voar sobre todas as terras
com a fala da minha voz
há neles um silêncio de furto
que poderia me fazer pensar que ouço a mim mesmo
fotografia sem crédito encontrada na net
31 de jan. de 2011
até uma palavra se escrever
até uma palavra se escrever
inúmeras se movem em sentidos
se espalham em críveis significados
balançam falantes, falantes
sobre a balança do poema
mas inevitável no instante
que sacode e oscila
cai a palavra que não poderia ser outra
mas aquela única
que canta e dança feito pluma
A amiga Amélia Pais - do blog Ao longe os barcos de flores - divulgou um poema de minha autoria no blog. Para quem quiser visitar clique aqui.
17 de jan. de 2011
O HOMEM E A PASTA PRETA
um homem se sentou à mesa da frente
mais um dentre tantos outros:
com a pasta preta e sentado
não dá conta de que o olho
talvez tenha me olhado para se certificar
como de praxe faz em meio à sua função
de examinar documentos que redige
não seria exagerado, mas de relance pude ver
o modo como olha é o mesmo de quem olha
um certificado, dá por certo e carimba.
existe, sim, um carimbo nos olhos dele
segura o copo com quem agarra uma caneta
o leva à boca no jeito de passar e repassar papéis
e bebe tão forte como se na língua tivesse uma norma
II
a pasta preta o acompanha intimamente
com ela sobre as pernas e por entre os braços
a coloca tão fixa, numa posição tão certa
como uma filha carece de mãos paternas
para se erguer e, suspensa, ficar segura.
me observou por um instante - talvez desconfiado
de que meu rosto fosse um falso documento.
no entanto, eu não o olhava mais.
me restaram ali o chão e um pensamento.
quando me dei p’ra fora os vi seguindo:
o homem e a pasta preta.
andava carregando a alça num balanço de executar.
segurava como se estivesse voltando de um parque
voltando de mãos dadas à sua filha.
lá vão eles - tão dependentes – um dentro do outro
lacrados e perdidos num mesmo passo
O poema "O homem e a pasta preta" foi divulgado no blog "A vida é uma magnólia". Desde já agradeço pela presença no blog. Para quem quiser visitar, clique aqui.
6 de jan. de 2011
UM CORPO VIVO
as cores se abrem do corpo
aberto para mim, para quem o vê.
de súbito, eternamente acordo
à verdade de quem deve abrir-se
não sou eu, nem nós, nem ninguém
porque se quero desfolhar alguém
vejo qualquer coisa inexistente
nem como rosa, nem como cravo
hoje nada arrancarei de sua pele
não perderei, nem perderá um pelo.
sentará frente a mim de corpo nu
e aos meus olhos, sim, libertará
a minha visão já esquecida de mim
para só ver e ver um corpo vivo