De repente constato que não é um olhar
Tão tranquilo, mas o dia está arejado.
Há naquele olhar um disfarce
Não tão claro como a hora do dia
Uma sombra quer esconder.
Sentado começo discretamente a olhar
Como quem aceita os comandos visuais.
Seu olhar continua a lançar o que quer
Mas ainda distante, tem pouco efeito.
Se aproxime - então começo a ouvir a voz.
Voz mansa e firme ao mesmo tempo
Perturbadora, envolvente, incisiva
Porém a suavidade predomina.
Enquanto fala e olha, a roupa também se diferencia
Aos poucos a postura, os gestos, a humildade se levantam
Tudo se mostra correto, superior, modesto.
Lentamente a sua distinção começa a falar por si.
Vejo de maneira quase imperceptível
O modo como se senta, olha e gesticula
Tudo ao se redor se torna inferior.
A roupa super discreta dispara
O conjunto se lança ao alvo:
O rancor e a arrogância de suas virtudes.
Faz disso a maneira de inferiorizar os outros
Para se tornar exemplar.
Ninguém podia imaginar
A sua humildade não se contestava
Mas agora se encharca falsa e severamente.
Talvez esteja querendo despertar inveja
Mostrar que sua bondade deve ser seguida
Talvez tenha o prazer de punir os diferentes
Com a docilidade na voz para lançar o desprazer.
O dia hoje está claro, arejado, tranquilo
As virtudes têm suas sombras.
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