Esse meu beijo julga ser outra coisa. Mas hoje o dia está quente demais...
Não foi um beijo. Foi mal dado. Nele havia um gosto de sonho.
Havia um odor exagerado de fome como morte. Tinha um gesto de quem reverencia uma imagem no altar de igreja. Era de uma temperatura ácida ou gelada ou doce demais.
Era um beijo sem corpo sem volúpia sem gelo.
Se o dia estivesse fresco...
Beijei como quem põe os lábios num copo. Se fosse num cálice
seria o mesmo.
Se no copo tivesse conhaque Ou água Ou chá
seria o mesmo.
E continuo a pensar nele.
Se me beijasses agora? Farias dele qual beijo?
De muitas alternâncias me restou um nada do beijo. Da minha segurança estou já dilatado no vai-e-vem dos grandes beijos.
Mas foi um nada que dele aconteceu o beijo.
E vejo muitos deles – um beijo de Brancusi.
Um beijo blues.
Fazer do beijo o estilo do nada ou da falha ou da escolha. Quantos?
Então um nada dele:
Antes ainda havia a vontade de beijar como um gato bebe lambendo leite fresco.
Como um cão de rua bebe água em poça de asfalto.
Vou morrer querendo.
Por que não beijei com um sonho de beijo?
Poderia também ser um beijo nu: como quem prova um pêssego.
Entreguei-o por inteiro.
Mas foi um nada de beijo.
Jefferson Bessa
27 de jun. de 2009
23 de jun. de 2009
Rogel Samuel Ao ler Jefferson Bessa
é à noite que os fantasmas da falta
se instalam nos espaços
e sobre seus traços cegos
nos alertam
cobre a noite com seu manto
os pontos-luz e de visão
e no arco da cidade adivinho
amores outros, que não faltam
Marcadores:
Moventes
14 de jun. de 2009
A noite ligou

A noite ligou, surgiu:
Nessa hora
Da luz elétrica que desliga
E me faz vigiar
A luz que falta
Eleva-se e pelo corpo
Move a nitidez noturna
Clareando o espaço
Preenche a penumbra
E espalha sua falta
Aos olhos já cansados
Sob a lâmpada do quarto
Pequenas luminárias
Em fulgor próprio,
As palavras crescem
Aos traços-lume do ver
As palavras se acendem
Por entre o ar negro
E por inteiro as vejo
Palpáveis em corpo
A escuridão se fez,
Deixou a noite aos meus olhos
Porque a ela não falta
Nenhum raio chamejante
Mas, ao longe, vejo pontos de luz
As outras luzes da cidade
Que se julgam ligadas
À corrente luminosa do ver
Pobres luzes
Que se ligam e cegam
O enorme blecaute
Nessa hora
Da luz elétrica que desliga
E me faz vigiar
A luz que falta
Eleva-se e pelo corpo
Move a nitidez noturna
Clareando o espaço
Preenche a penumbra
E espalha sua falta
Aos olhos já cansados
Sob a lâmpada do quarto
Pequenas luminárias
Em fulgor próprio,
As palavras crescem
Aos traços-lume do ver
As palavras se acendem
Por entre o ar negro
E por inteiro as vejo
Palpáveis em corpo
A escuridão se fez,
Deixou a noite aos meus olhos
Porque a ela não falta
Nenhum raio chamejante
Mas, ao longe, vejo pontos de luz
As outras luzes da cidade
Que se julgam ligadas
À corrente luminosa do ver
Pobres luzes
Que se ligam e cegam
O enorme blecaute
Que descobre a Noite
Marcadores:
Escritos versos
9 de jun. de 2009
Rogel Samuel sobre um poema de Jefferson Bessa
seu verso é um espelho:
"eu sonho claríssimo", disse
e todos nós mergulhamos plenos
no seu sonho claro...
e nunca se sonha dormindo
sonho é sempre desperto
é o despertar
quem desperta de um sonho
mergulha no seu sonhar
Marcadores:
Moventes
3 de jun. de 2009
Sonho Desperto

Se sonho uma terra longínqua
Posso por ela caminhar
Sem fantasia.
Ponho a jaqueta do sonho
E protegido por ela
Não acordo nunca
Porque enquanto sonho
Conheço firme o seu chão.
Nunca se sonha acordado.
Sonho desperto é sonho
Que sonha e é vivo
Porque não pensa que pensa.
Poucos homens sonham.
É tarefa muito justa
Viver um sonho sim.
Muitos poetas sonham
É certo!
Mas um sonho
De sonhar acordado.
Eu sonho claríssimo!
Passeio em terra longínqua
E conheço grandes ruas
Infindas, embaçadas.
E por elas homens de pele cinza
De rosto contornado
Olham e cantam comuns.
Um sonho! Não o penso
Porque seria outra terra.
Posso por ela caminhar
Sem fantasia.
Ponho a jaqueta do sonho
E protegido por ela
Não acordo nunca
Porque enquanto sonho
Conheço firme o seu chão.
Nunca se sonha acordado.
Sonho desperto é sonho
Que sonha e é vivo
Porque não pensa que pensa.
Poucos homens sonham.
É tarefa muito justa
Viver um sonho sim.
Muitos poetas sonham
É certo!
Mas um sonho
De sonhar acordado.
Eu sonho claríssimo!
Passeio em terra longínqua
E conheço grandes ruas
Infindas, embaçadas.
E por elas homens de pele cinza
De rosto contornado
Olham e cantam comuns.
Um sonho! Não o penso
Porque seria outra terra.
(Jefferson Bessa)
Marcadores:
Moventes
Assinar:
Postagens (Atom)