às vezes as coisas no homem
dão assim para penar.
e na pena de pensar
e de pensar penando
os olhos começam a penar
como uma vizinha
um mendigo, uma montanha
como pena esta cidade.
de tanto olhar acabei nesta pena
e neste sorriso de canto
(se fosse em branco
como é o branco
não teria pena daquela folha.
mas numa folha impressa
cada pena é a letra da folha.
se fosse folha de poema
mas é folha de jornal.
se fosse folha de árvore
jamais teria pena
mas essa pena é quase
quase uma pena de ave
que na doença perdeu as penas)
às vezes as coisas no homem
dão assim para penar.
como aquele que um dia
esqueceu o leve da pena do pássaro
para dar à pena da composição
o seu grande espírito
que, arrebatado, sentiu dor
e deu à pena a forma de bico
se viu feito um pássaro
mas, sem voo, escreveu
a doença do sentido pena