18 de set. de 2014

PAREDE DESCASCADA


move-se o estalido que abre a casca
voz no canto inferior da parede
onde o horizonte do quarto se levanta

sem pressa o som se ergue
na parede a camada de vida vibra
a tinta se abre, desprende-se do concreto

o ruído crescente de galhos
a pequena árvore que irrompe
tronco espesso rente à parede
- madeira de casco denso – tremor de fissuras

rebenta a cor, sobre o concreto se movem as linhas
no quarto brotam as rachaduras
fraturas
cicatrizes

sobem linhas a caminho – rios se desenham
balançam como o vento de fora.
não há que ver por dentro
nada há dentro da tinta
não há nada atrás da parede
a descasca brilha na quina do quarto
logo ali onde se pode ver como fruto
como se abrisse pela primeira vez
sem saber ainda o sabor


Do livro "Nos úmidos planos das mãos"

3 comentários:

ROGEL DE SOUZA SAMUEL disse...

suas paredes criam alma e falam, em dores e cores que descascam no que aprisionam o espírito e o corpo e o os impedem de voar...

Jefferson Bessa disse...

Meu caro Rogel, quando os olhos descascam a casca para nela se moverem...e sua leitura que sempre agradeço.
Um abraço!
Jefferson

lupuscanissignatus disse...

Quarto em crescendo. Nada aqui vive à míngua. Tudo se expande. Cascata de sentidos. Uns, pressentidos; outros, explícitos.


Abraço.