6 de ago. de 2013

EU UM BARRACO SUSPENSO


agora deram pra me olhar
eu um barraco suspenso
no morro de qualquer cidade.
visto de todos os lados sou
uma porta que mal abre
já caída se quiser fechar

sob vento sob chuva
sob sol e sob olhares
eu aqui tão sob, tão sub
eu um barraco em linhas
de tábuas e letras e tosco

um dia desse cai de vez
ou melhor, eu mesmo 
armo aqui um barraco
e vou quebrar o barraco
pra fazer cair de vez

eu um barraco no asfalto
faço linhas sem engenho
sem arquiteto, bem torto
por pouco não desabo

se falar mais alto cai
de uma só vez, sem esforço.
sem esforço, sem polidez
esses versos são tábuas
mal cortadas, sem verniz

eu um barraco na cobertura
de frente pro mar de fios
e telefones e carros-carroças.
tudo capengando em belezas
de quem só age pra comprar 

ah, sou mesmo é um barraco.
muitos são os barracos por aí.
pregos soltos e enferrujados
que até pra soltar os bichos
tropeçam e se desmontam

se alguém chegar pra exibir
tudo isso na tevê, já sei:
eu que sempre vivi de má fama
não fará diferença alguma.
vou xingar, blasfemar, vou
chegar bêbado, vou gargalhar

tão fraco e tolo sob telhas
entre tijolo e madeiras velhas.
agora me inventaram pros olhos
exóticos; e são de uma bondade
de tirar algumas fotografias
para me guardar na máquina

fazem pra cá viagens doentes
para ver outro enfermo - 
eu e outro - viagem de bobo
em aventuras de fotografar
a sua e a minha desventura

lembrança mórbida de quem
na memória já é um enfermo.
gente falsa; gente que se diz
de alteridade e de caridade

deveriam dar um trato nos olhos
nessas manias de guardar.
pro espaço essa gente toda!
eu um barraco que não habita
mas que dura assim enferrujado


Um comentário:

Fred Caju disse...

Chegaste a ler meu e-mail, nobre?