24 de set. de 2012

LICENÇA POÉTICA




Não peço licença para escrever.
Mas me enviaram
Um documento que me autoriza a escrever
Do modo como eu quiser.
Mas quem o pediu?
Não fui eu.
O oficial à minha porta, impaciente comigo,
Me ordenou que assinasse o papel,
Para confirmar que estou ciente.
Não estou ciente, nem consciente,
Nem conheço esse tipo de ciência em mim.

(Bateram à minha porta
Mas nunca fui à porta dos gramáticos.
Seria como ir à prefeitura da cidade
Receber uma licença para escrever)

Volte com este documento!
Diga que quando escrevo
Não faço nenhum desregramento
Nenhum desvio,
Por que, então, receber essas licenças?
Para liberdades de sintaxe?
Para amplitudes semânticas?
Para possibilidades fonológicas e morfológicas?

Não assinarei o que nunca pedi,
Diga à prefeitura dos gramáticos
Que sou como se não existisse.
Melhor assim do que existir
Sob licença por ser quem sofre de desvios
Concedidos por proprietários da língua.

Quando se escreve não se recebem
Licenças de uso ou de renovação.
Apenas quero escrever poemas
Mas me perdi escrevendo
Das grandes concessões gramaticais...


3 comentários:

Luiz Filho de Oliveira disse...

Poetas,como você, Jefferson, dispensam essas burocracias gramaticais. Sua escritura é verbo dos fortes. Evoé!

Fred Caju disse...

Do caralho! Quem dera todos seguissem o primeiro verso.

Teté M. Jorge disse...

Ai, poeta, que caminho interessante entre os versos que nos conta...

Beijo carinhoso.