3 de fev. de 2012

PASSANDO PELA RUA


passam dois, quatro, seis olhos
me olham
como se quisessem descobrir
o que no instante reluz

provável que tenham no desejo
o que dos meus olhos escapa

(poderia pensar que me vigiam
ou me convocam.
no entanto, essas oscilações
não importam

poderiam me julgar que eu nos olhos
do meu sujeito exacerbado
vejo os olhos alheios
por dentro dos meus)

alguns podem não ter consciência
e sentem no olhar,
mas outros sabem
pelo imediato do olhar
o que seu também sabe sentir

é que os corpos acordam
ao encontro dos que passam,
por isso se dá passagem
à transpiração entre olhos:

na verdade, quem vejo
quem me vê
é o Amor de minutos atrás
no corpo ainda sinto
e aos olhos se revela
translucidamente

5 comentários:

Zélia Guardiano disse...

Maravilha, Jefferson!
Parabéns!
Abraço

Jéssica do Vale disse...

Pois bem,
eis a força do olhar:
Falar mais do que podemos

Bons ventos.

ROGEL DE SOUZA SAMUEL disse...

vc transformou a realidade em sonhos, fez a fenomenologia poética do pilhar a realidade do passar, a realidade só olhos, os corpos vêem e ao ver são vistos, são fisgados, vc ultapassou o erotismo, atingiu o que não sei dizer (só vc sabe)

ROGEL DE SOUZA SAMUEL disse...

...(continuando) ... algo de Proust: quando ele conheceu Albertine, pela primeira vez, ela era uma menina, e rebocava sua creio que avó...

Teté M. Jorge disse...

Totalmente visível o invisível olhar...

Um beijo carinhoso, poeta.