30 de nov. de 2011

ANDO MUITO LENTO, MUITO LENTO

ando muito lento
mais lento que a lentidão
talvez mais lento que o animal mais lento
por isso tenho infinitas afinidades
com uma senhora - minha vizinha.
quando saímos juntos, andamos tão lentamente,
andamos numa lentidão superior às fraquezas dos ossos.
superior até mesmo a qualquer retardamento mental.
nessa lentidão especial é que conversamos
caminhamos quase parados

sempre parado, assim fico
sempre parado
como quem não sabe se vai ou se fica
sem saber qual é a próxima parada
tão parado que não sei nem mesmo onde parar

a rua corre, a cidade cresce
a cidade julga caminhar em velocidade
as mensagens voam,
e tudo me faz querer parar

quando olho ao meu redor
e vejo passar o automóvel
ou a nave mais veloz do mundo
sinto-me plantado no chão
empacado como o automóvel mais velho do mundo
identifico-me com uma árvore na calçada
com um camelô no meio do caminho
com um poste, um assento, uma avenida congestionada

a cidade se julga muito rápida
mas subo e desço as ruas lentamente.
alguma coisa na cidade sonha a rapidez
mas nela só há arrastados passos
e caminhamos nas ruas
eu e minha vizinha

dirão que o retardo em mim
provém do excesso de cidade.
dirão que sou um vencido.
mas minha lentidão é inerente
sempre estive lento
demorei a nascer
e nesta cena me mantenho
como um drama sem ato

6 comentários:

ROGEL DE SOUZA SAMUEL disse...

a vida em câmera lenta, em travada marcha, retardada, vc faz a leitura do inverso, do avesso, do retrocesso do anti-progresso, do belo que há no negativo... como sempre... lento... magnífico

Luiz Filho de Oliveira disse...

Fiquei parado em seu texto, Jefferson. Parada legal, essa!

Jefferson Bessa disse...

Sim, amigo Rogel, bela é a sua leitura do que "há no negativo". Os melhores passos são dados lentamente. Sem as febres do "anti" e do "pró".
Grande abraço.
Jefferson.


Luiz, bom que "parou" por aqui. Seja sempre bem-vindo. Caminhamos lentamente...Abraço. Jefferson.

Teté M. Jorge disse...

Lento nos gestos, mas não nos versos!
Adorei o "retardo" poético!

Um beijo carinhoso.

Gerana Damulakis disse...

Que interessante, JB. Gostei muito.
Grande abraço em câmara lenta.

Unknown disse...

Maravilhoso, Jefferson!

Assim deveríamos ser todos. Jamais ninguém conseguirá alcançar a velocidade do mundo como está agora.

AH! Quero e vou tentar diminuir a marcha,

Beijos

Mirze