27 de nov. de 2010

linhas da boca (ou copo da boca)




beber no móvel de círculos
como se enrola a um pescoço.
balançar nas bordas
à beira das águas do copo
que a cavidade escancara

não é de vidro ou plástico
mas daquela malha das bocas
que resiste aos altos graus
do que entorna
sem agravo qualquer

apenas abrir os lábios
na finura de um céu aberto
que bem aos poucos sente
derreter feito a alvura de nuvens
quando do alto vêm molhar

apenas santamente abri-la
como quem se abre ao cálice
ou como quem brinca de abri-la
embaçar a janela num dia de chuva
para escrever e apagar

resvalar por bocas variadas
valer-se dessas águas quentes
cópula dilatada que desliza
aos dentes, à língua
ao palato duro, ao mole
ao céu, ao alto:
abóbadas da boca

4 comentários:

Teté M. Jorge disse...

Sensual... resvala na alma...

Beijo carinhoso.

Anônimo disse...

Lindo poema sensitivo e de mistura de linguagens.

Beijo, amigo!

dade amorim disse...

Um mestre, você, Jefferson.

Abraço grande.

ROGEL DE SOUZA SAMUEL disse...

bravo poeta
como sempre bom de ler e certamente o intraduzível