1 de fev. de 2009

Meus braços dormem

são meus braços?
quase não os sinto mais
constante dormência
...e dormem realmente!
realmente?
então, é real um braço, uma perna
uma face dormir!
dormem claramente.
são da matéria de uma casca dura
nada brota deles...e dormem
nem respiram, nem exalam
paralisados... e dormem.
jogo-os sob o choque
do sol, do fogo, do gelo
e meu movimento

não me movimenta mais
impermeável fico
perdeu-se a água, o ar
não escorrem, não lavam.
não respiro sensibilidade
dormindo num formigueiro
inteiro e interno que me move
sem me excitar nem hesitar.
passam os orvalhos e o sono e o infinito

e meus braços dormem!

(texto de Jefferson Bessa)

4 comentários:

Jonathan disse...

Jefferson,
Adorei este poema, ele tem um ritmo muito bom, quase, arrisco-me a dizer, num ritmo de uma leve caminhada. E, o mais interessante é que me parece uma caminhada que vai, passo a passo, ampliando sua investigação em busca de um questionamento filosófico bem maior, como se a perguntar se o controle das inúmeras partes de seu corpo tornam-no por inteiro seu!!! E, assim, interrogar, num estágio mais avançado talvez, que parte do corpo teria a responsabilidade de ser o "eu", o "centro" !!!! Muito bom!!!!

Nico Nicodemus disse...

Muito bom, Jefferson! A verdadeira metafísica está nos fenômenos mais simples.
"...formigueiro inteiro e interno que me mome sem me excitar nem hesitar."
Salvou o meu dia de ser apenas um vazio de trabalho escravo! Valeu!

Jefferson Bessa disse...

Muito grato pela visita e pelos comentários de vocês! Grande abraços aos dois!

Luciano Fraga disse...

Belo poema,os "braços dormem", diante de tudo que temos assistido muitas vezes surge uma espécie de impotência, cruzar os braços, abraço.